domingo, 24 de agosto de 2008

Grow Up and Blow Away

"Sunday comes and Sunday goes... Sunday always seems to move so slow..."

Os seis reuníram-se no café (ok, na verdade em uma padaria) para discutir as boas e velhas banalidades.

Henrique e Mário, sem renegar seu passado (e presente) nerdístico, não paravam de pensar em Olimpíadas. Este, nacionalista como sempre, elogiava a campanha brasileira; enaltecia certas surpresas, como o ouro de Cielo e Maggi, a prata de Scheidt ("Afinal, para alguém que mudou de categoria há tão pouco tempo, o resultado foi muito bom, a despeito do lance de sorte na última regata") e o crescimento em outras modalidades, como a ginástica artística e o taekwondo. Isso sem falar no total de 15 medalhas, repetindo o recorde de Atenas, e, finalmente, à frente de Cuba no nº de ouros.
Seu amigo logo o rebateu, lembrando-se dos inúmeros fracassos da delegação tupiniquim em Pequim. Para ele, três das quatro medalhas de prata poderiam tranqüilamente ter sido ouro; Henrique afirma que tanto o vôlei de praia masculino ("No 3º set, devem ter se esquecido que estavam em uma final") quanto o futebol feminino ("Faltou trabalho em equipe; excesso de arrancadas individuais e escassez de cuidado com a defesa") e o vôlei 'de quadra' masculino ("Talvez os americanos perderam o primeiro set de propósito, só para conhecer melhor o jogo deles e arrasá-los nos sets seguintes. Isso sem falar na colaboração do escrete canarinho, que errou muito mais do que o normal nos saques e na recepção") amarelaram na hora decisiva.
Além disso, não via sentido em comemorar derrotas que não podiam ser minimizadas: salto em distância masculino, futebol masculino ("Para os argentinos, vencer aquele jogo foi como chutar cachorro morto"), judô, hipismo, basquete feminino ("Especialista em derrotas nos últimos segundos") e na própria ginástica ("Encheram tanto a bola do Diego e da Daiane que eu já pressentia um fracasso").

Júlia riu do tom trágico que ele adotou em suas reflexões. Disse que ficar lamentando fracassos esportivos era excesso de ócio não-criativo. Estava mais interessada nos filmes e bandas que havia descoberto no início de Agosto. Por exemplo, (re)descobrir a carreira solo de artistas de conjuntos que ela adorava - The Breeders e Morrissey podiam ser melhores do que um fã xiita de Pixies e Smiths (como ela própria) imaginavam.
César, embora tenha torcido mais do que imaginava nos jogos a que assistiu, logo esqueceu as Olimpíadas, afinal tinha coisas mais interessantes com que se ocupar (bons livros, por exemplo). Agora que havia terminado "A Insustentável Leveza do Ser", ("Aliás, que final belo e melancólico teve a obra... qualquer dia desses farei uma resenha") está a pensar no próximo. "Ação Humana" seria uma boa pedida, mas que tal algo mais cáustico como "O Imbecil Coletivo" (Olavo de Carvalho)?
Giovana, após ter solucionado mais um período de dilemas e inconstâncias, nem tivera tempo disponível para ver os Jogos. Além disso, já estava muito atribulada com as matérias da universidade, cujos estudos lhe ocupavam até nos fins de semana. Ainda bem que havia janelas em seu horário para respirar um pouco.

Já Alice... bem, não surpreendentemente ela estava semi-acordada, afinal havia ido a uma balada na noite anterior. Nem sabia por que tinha topado o convite dos amigos para sair naquela manhã, mas, de qualquer maneira, sua tolerância à sociabilização não estava abaixo do normal naquele domingo.
Como uma pequena vingança, não deixava de pensar na vidinha besta que desenvolvia com seus 5 melhores amigos. Conhecera-os em circunstâncias diferentes, embora, com a exceção de Giovana, em um espaço temporal curtíssimo. Henrique ainda era aquele por quem mais se simpatizava, embora não conseguisse parar de falar de política e futebol com um viés 'Eu faria melhor que eles'. Mário deixava-se encantar pelas suas idealizações: pátria, videogames, amor, matemática... não adiantava pedí-lo para voltar à realidade. Júlia bancava a arrogante, sempre destilando desprezo e sarcasmo, talvez para negar sua "essência" gentil ou fingir ser uma garota independente e auto-suficiente. César sempre desviava o assunto da conversa para comentar o última leitura que havia tido ou sobre como tinha idéias brilhantes que poderiam mudar o mundo - ou, pelo menos, gerar um livro razoável. E Giovana? Ah, nem faria sentido criticá-la, pois ela mesma já o fazia em seus, digamos, lapsos freqüentes de negativismo (ou, quem sabe, realismo).

Pronto, já havia despejado mentalmente (e verbalmente, afinal deliberadamente pensava alto) o que achava daquela conversa. Todos riram, um ou outro ficou magoado e as digressões continuaram.

domingo, 27 de julho de 2008

Ponto de partida

27 de Julho de 18 d.M. é a data em que se passa o primeiro capítulo do meu livro. No próximo post eu explico por que.

sábado, 26 de julho de 2008

Novas idéias para o livro

(Blog fundado em 23/7. Este primeiro post é uma reprodução de um texto publicado também hoje em "Racio Símio". Conteúdo inédito, em breve.)

Nesta minha curta estadia em Goiânia, (re)descobri o tanto que andar a esmo no quintal da minha casa facilita a circulação de idéias. Foi em uma dessas 'caminhadas peripatéticas' que tive uma nova luz para o meu livro.
Resolvi mudar os nove meses em que se passam as ações (e devaneios) da trama. Se antes começava em 21 de Setembro de 17 d.M. e acabava em 29 de Junho de 18 d.M., agora iniciar-se-á em 19/Fev/18 e encerrar-se-á em 9/Nov/18.
O principal e mais óbvio motivo para tal mudança é que eu terei mais quatro meses para "esperar" que algo emocionante aconteça na minha vida, o que forneceria material para os capítulos que se passam entre Julho e Novembro. Tudo bem que eu já desisti de deixar o livro 80% autobiográfico (desde aquela minha pseudo-epifania em Fevereiro, decidi reduzir para uns 20%, rs), mas alguma situação inusitada nas próximas semanas poderia até elevar minha inspiração.
Sei que já é tarde demais para virar um hedonista, afinal, agora que eu tenho 18 anos e já possuo maioridade penal, perdeu-se a graça em tentar viver perigosamente. Virei um pós-adolescente e continuarei a ser apenas um intelectualóide abstêmio. Isso, no entanto, não é desculpa para evitar uma ocasião divertida e inesperada que não necessariamente diminua (muito) meus pontos nos testes de pureza - a propósito, o último deu quase 90%, hehe.

Algumas informações básicas:
- Continuam a ser dezessete capítulos, só que eu não pretendo mais limitar o número de páginas. Se passar de 300, não tem problema;
- Cada um deles terá como pretexto 17 datas diferentes, em uma ordem não-linear. Mesmo assim, os flashbacks remetendo a eventos que ocorreram entre 13 e 17 d.M. serão constantes;
- Tentarei diversificar ao máximo a maneira de narrar em cada capítulo: 'stream of consciousness', narração em 3ª pessoa com discurso indireto livre, diálogos (quem sabe com estilo teatral), narração onisciente em 3ª pessoa, narração polifônica em 1ª pessoa etc. Isso sem falar no egoperspectivismo, pois o 'jeito de ser' de cada personagem será determinante na condução da narrativa (juro que tive essa idéia antes de ver "Skins" e ler "Uma Casa no Fim do Mundo");
- Tenho a intenção de fazer muitas referências literárias, políticas, musicais e filosóficas, mas preciso praticar a sutileza no uso de pressupostos para que este recurso não fique pedante demais - e olha que já ficará muito;
- Como deixa a entender o novo período em que se desenrolará a história, o foco agora é a chegada aos 18 anos, e o espaço oportuno que tal acontecimento dá para um acerto de contas com o passado e uma reflexão sobre o presente e o futuro de cada um dos seis protagonistas;
- Só Alice (13 de Janeiro) não fará aniversário durante estes nove meses, mas em um dos capítulos haverá uma rápida recordação de como foi a aquisição da maioridade pela mais velha do grupo;
- Depois de tantas minúcias, que tal começar a escrever "(Des)construção Psíquica" logo e/ou terminar de ler "Ulisses" (ainda faltam 166 páginas, Kaio)? Boa idéia. Tchau.