terça-feira, 22 de janeiro de 2013

11 meses depois, mais "screenplay"

Debates culturais-filosóficos ao longo do livro:
- Schopenhauer e Nietzsche -; criação artística, a querela do esteticismo (César, Júlia e Alice). Capítulo 1. [Mudança em relação ao plano original, que era uma conversa sobre política e ética de César e Henrique]
- Ayn Rand -; egoísmo vs. altruísmo, misantropia ou grandeza humana (Henrique e Júlia). Capítulo 10.
- Evangelion - guinada psicológica, gnosticismo, dilema do ouriço (Mário e Giovana). Capítulo 12.
- Dostoiévski - Deus, niilismo, livre-arbítrio (Giovana e César). Capítulo 13.
- Thomas Mann - Bildungsroman, debates ideológicos (Júlia e César). Capítulo 16.

Progressão temporal:
1990 ("ano zero") - Nascimento dos 6 personagens.
1997 (7 d.M.) - César e Mário se tornam amigos.
2001 (11 d.M.) - Giovana e Alice se conhecem.
2003 (13 d.M.) - Henrique fica amigo de Mário e César.
2005 (15) - Henrique conhece Alice e Giovana.
2006 (16) - Alice e Giovana vão estudar no mesmo colégio dos meninos. Júlia se muda para esta escola no 2º semestre.
2007 (17) - Único ano em que todos estudam na mesma sala. [Todos esses fatos serão contados no capítulo 2, mas também serão relembrados em outros capítulos, principalmente 10, 11 e 15]
2008 (18) - Todos passam na UNICOS - capítulo 2.
2009 (19) - Namoros de César & Christine e Júlia & Eduardo - capítulo 9. Chapa esquerdista de Henrique vence eleições para DCE - capítulo 4. Fase "feminista LGBT" de Giovana - capítulo 3.
2010 (20) - Júlia e César fundam o projeto Humanitas - capítulo 7. Mário começa a namorar Rafaela - capítulo 12. Giovana começa sua guinada católica - capítulo 13.
2011 (21) - Último ano de UNICOS para metade do grupo (Alice, César e Júlia); em decorrência da militância política (Henrique) e dos cursos longos (Giovana e Mário), os outros ficarão pelo menos mais um ano. Chapa liberal de Júlia e César vence eleições para DCE, e eles passam em mestrados no Rio - capítulo 16. O réveillon decisivo - capítulos 13 a 17.

P.S.: Estou pensando em fazer a história não se passar mais em um fim de semana, mas de fato ter uma duração cronológica maior. O flash-back se resumiria ao capítulo 15. Porém, o cap. 1 seria cronologicamente posterior aos onze seguintes, e os cinco últimos ocorreriam no fim de semana.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Resumo dos capítulos / Perfis ideológicos

(Iniciado em 24/9/2010. Última atualização em 25/1/2012, com algumas correções feitas hoje)
Cada um dos capítulos terá um diálogo (ou monólogo) filosófico, em busca de uma resposta, conclusão ou, ao menos, definição mais clara das posições em jogo. Uso predominante de 1ª pessoa, mas com narrador homodiegético com alto aprofundamento psicológico (à beira da onisciência) – embora por perspectivismo.

Capítulo 1 – “Renascença e Reforma”; debate; César x Henrique, durante conversa nostálgica sobre as mudanças da adolescência, entram em uma discussão sobre política e ética. 19h, 30/12/21.
Capítulo 2 – “New Born”; todos, sobre vestibular; Júlia relata conversa do grupo sobre a véspera do “o início de tudo”, uma nova etapa na vida dos seis. Fala sobre o 2º e 3º ano do Ensino Médio. 20h, idem.
Capítulo 3 – mudanças e experiências no primeiro ano de universidade; Giovana, em monólogo interior, relembra seus tempos de feminista/LGBT, e as angústias “smithianas” pelas quais passava. 21h.
Capítulo 4 – a política estudantil na UNICOS; Henrique e Alice discutem contra Júlia e César sobre invasão da reitoria, eleições do diretório e conselhos e uma avaliação do movimento estudantil em geral. 22h.
Capítulo 5 – festas e vida social; na ressaca, após uma festa na qual abusou da bebida, Alice se diverte (e “esquece” a dor de cabeça) com algumas histórias de baladas nas quais ela foi em 18 d.M. Durante a narração, ela compartilha com o leitor detalhes sobre teoria e prática hedonista. 10h, 31/12/21.
Capítulo 6 – videogames e pessoas; Mário conta anedotas de sua vida pacata, papeando com os demais sobre o mundo nerd e relacionamentos. Um trajeto “normal” de pós-adolescência – e é isso que o deixa angustiado. 13h, idem.
Capítulo 7 – reflexões; Júlia fala sobre o seu pensamento filosófico (objetivismo cético), religioso (espiritismo) e político (liberalismo). Comenta um pouco sobre o projeto Humanitas (que criou junto com César), a Aliança Liberal (grupo estudantil) e suas diferenças ideológicas em relação aos 5 amigos. 15h.
Capítulo 8 – dilemas e angústias; César e suas principais dúvidas e indagações no crucial segundo ano de UNICOS, no qual, além de decisões sobre seu futuro acadêmico, teve que lidar com o namoro de Júlia e a paixão não-correspondida por Flor. 18h.
Capítulo 9 – amizade perfeita ou amor não-declarado; Júlia & César, após anos sem falar sobre o assunto, conversam e relembram seus primeiros namoros (ela e Cássio e ele com Christine), e como isso afetou a relação entre eles. Sua amizade esteve em situação delicada no ano 19 d.M. 20h.
Capítulo 10 – passado e presente; após conversar um pouco com os amigos, Júlia dorme mais cedo e reflete sobre sua trajetória pessoal, economia, arte e... seus sentimentos por César. 23h.
Capítulo 11 – “bildung”. César se isola para pôr os pensamentos em ordem. Os assuntos vão desde o fato de ter adorado o ano de 20 d.M. até a timidez e medo em se declarar a Júlia. Porém, também resume quais os problemas pelos quais seus 4 outros amigos estão passando. 10h, 1º/1/22.
Capítulo 12 – elogio do senso comum; o futuro engenheiro Mário, o “filho saudável da vida”, constata que sua vida é tranqüila, e que não há nenhum mal em ser assim. 14h, idem.
Capítulo 13 – resolvendo uma crise espiritual; Giovana conta de forma emocionante para os demais como, ao longo dos anos de universidade, abandonou o relativismo e se reconverteu ao catolicismo. Capítulo de influência dostoievskiana. 18h.
Capítulo 14 – tensão e desespero; após uma séria e intensa confrontação com Júlia e Giovana, que criticaram fortemente sua postura niilista, Alice, que já não consegue mais emplacar seus jogos retóricos, entra em colapso, grita e começa a chorar compulsivamente. 20h.
Capítulo 15 – o revolucionário e a hedonista; Henrique relembra os primeiros meses de sua amizade (e até namoro) com Alice, e procura entender as crises de consciência dele e da amiga. Amplo relato de eventos ocorridos entre 14 a 16 d.M. 22h.
Capítulo 16 – a longa e definitiva conversa, parte 1; no fim da 3ª noite, Júlia & César (único capítulo narrado em 3ª pessoa) falam sobre tudo, desde vida acadêmica e literatura até música e filosofia. Capítulo “cult” e descontraído. 22h.
(obs.: os capítulos 15 e 16 ocorrem ao mesmo tempo)
Capítulo 17 – a longa e definitiva conversa, parte 2; o assunto que não queria calar finalmente vem à tona: amor ou amizade? Com a ajuda de flashbacks e um elaborado diálogo filosófico, Júlia & César (diálogo teatral) tentam decidir se começam ou não um relacionamento. 23h.
- Política, filosofia e religião
César - agnóstico-cristão, humanista e libertário
Júlia - espírita, aristotélica e liberal
Alice - atéia, niilista e social-democrata
Henrique - ateu, marxista e socialista
Mário - protestante, pragmático e conservador
Giovana - católica, existencialista e centrista

Júlia

(Escrito em 20/7/2011, com algumas alterações)

Júlia vive uma tensão interna profunda, mas que doma com todas as suas forças. Embora ela tenha como principal objetivo ser perfeitamente racional e equilibrada, até mesmo fria, há certos impulsos sensíveis e artísticos em sua alma. Ela estuda Economia, é liberal e possui uma conduta firme e decidida, mas também adora cinema e música e é muito introspectiva em relação a seus sentimentos. Ao longo da obra, ela e César desenvolverão uma “amizade perfeita” (conceito aristotélico), não abalada mesmo quando cada um deles namorou. A questão é se ela aceitará os sentimentos que nutre por ele e se César romperá seu egoísmo e admitirá que gosta dela.
Ela pretende ser moderna em tudo o que faz, pensa e aprecia.

Música – “Meu gosto musical tem como marco fundador a queda do Muro de Berlim. O fim das utopias fez bem à nossa cultura, que parou de cultivar ilusões patéticas. Confesso meu desinteresse pelo rock clássico. Prefiro bandas que têm mais a ver com a minha realidade, meu contexto”. Blur, Radiohead, Nirvana, Pavement, PJ Harvey (“a minha preferida quando desconto em mim mesma minhas angústias”), Sonic Youth (“a única com um pé nos anos 80 que eu curto”)...
Top 5: “This Is a Low” (Blur), “Lucky” (Radiohead), “Rid of Me” (PJ Harvey), “Stop Breathin’” (Pavement), “Sometimes" (My Bloody Valentine).

Literatura – “Valorizo livros que expressem, inclusive esteticamente, a vida moderna. Admito a importância dos ‘Grandes Livros’, mas, novamente, prezo por aquilo que enxergo claramente na minha época”. Orwell, Kundera, Joyce e, principalmente, Ayn Rand. “A parte crítica e negativa de A Revolta de Atlas expõe boa parte do que penso da maioria esmagadora das pessoas e ideologias.”

Política – “Considero-me liberal. Defendo o Estado-mínimo, o livre mercado e o ‘rule of law’. Gosto muito da formalização argumentativa da Escola de Chicago e da lógica da Escola Austríaca. Além, é claro, do ‘founding father’ do liberalismo, Adam Smith.”

Cinema – “Admito que sou moralista, sempre preocupada em extrair uma lição de tudo que faço e vejo. Sendo assim, aprecio filmes que criticam os excessos da modernidade, mesmo que para isso precisem vestir a carapuça”. Gosta de filmes sombrios e desesperançosos, bem “mind blowing”. Top 5: Clube da Luta, Laranja Mecânica, Quero ser John Malkovich, Seven, Apocalypse Now.

Relacionamentos – “Tenho muita dificuldade e receio em lidar com as pessoas – não sei se por arrogância ou pelo tal ‘medo de me ferir’ - , o que obviamente se manifesta em meu pequeno currículo amoroso. Não acho que vale a pena entrar em um relacionamento enquanto não tiver avaliado todas as variáveis e adquirido a certeza de que é um investimento que vale a pena. Meu primeiro beijo foi no dia do meu aniversário de 16 anos, e eu só tive um namoro para valer até hoje, em 19 d.M.”

Filósofo favorito – “Aristóteles. O único suficientemente coerente para me interessar.” Porém, sua mentalidade também é muito influenciada por Schopenhauer e Ayn Rand.

Descrição: Média alta, cabelos castanhos lisos, calça jeans, camisa xadrez, blusa preta de manga cavada, fones de ouvido.

Perfil: Júlia é espírita, mas extremamente cética, desconfiada até mesmo do “humanismo secular” da ciência (ex.: Richard Dawkins). Sua descrença no mundo e nas pessoas faz dela uma pessoa meio amarga, com escassa esperança. A única coisa que a interessa é a lógica, a sensatez, o “rigor analítico”; daí seu aristotelismo.
Só teve dois relacionamentos:

1) aos 16, com Pompeu, teve o seu primeiro beijo, mas só “namorou” com ele durante 6 semanas, pois o acha imaturo, inseguro e muito “normal” em seus gostos, idéias e opiniões. Depois de uma mal-sucedida tentativa de perder a virgindade com ele (ela desistiu já nas preliminares), no dia seguinte ela terminou a relação unilateralmente. Dias depois, pediu para mudar de colégio, decisão motivada por outros fatores, como a falta de amigos, os professores entediantes e o ambiente hipócrita de sua escola.
2) Nas férias do segundo ano de faculdade, começou a namorar Cássio, colega de Economia, com quem teve a sua primeira vez. No início de maio, entretanto, seu ceticismo despertou diante do rumo entediante que seu namoro vinha tomando. Embora fosse elegante e cavalheiro, seu namorado não despertava nela uma paixão genuinamente forte, tampouco uma intensa atração psicológica ou mesmo filosófica. Lembrou-se do que Schopenhauer dizia sobre o amor (disfarce para interesses reprodutivos/biológicos); desenganada, não viu futuro na relação com Cássio e terminou.

Na nova escola, para sua surpresa, logo de cara fez várias amizades, sendo que uma delas em especial virou sua paixão platônica: César. Porém, consciente de que gostava do rapaz, escondeu seus sentimentos de forma ardilosa: em uma conversa com ele, disse que “Ainda bem que somos só amigos; um namoro seria terrível para os laços que estamos cultivando.” Isso adiou em mais de 4 anos a declaração mútua.

Júlia é extremamente solitária, e por vontade própria. Desde o divórcio dos pais, perdeu a esperança na durabilidade e confiabilidade dos relacionamentos humanos. Somou-se a isso sua dúvida profunda quanto à existência de Deus e o sentido da vida, do que decorreu que a garota de aptidões artísticas que ela era resolveu se tornar um “monstro utilitarista”, que só pensa racionalmente, em termos de custos e benefícios.
Junte-se a esse pessimismo cosmológico a sua maneira distópica de encarar a política (além de “A Revolta de Atlas”, também adora “1984” e “Admirável Mundo Novo”, dos quais retira vários argumentos para desprezar sexo e drogas – “são alienantes” – e projetos políticos ambiciosos – “o risco de se tornarem totalitários é gigantesco”), sempre pensando no que de pior pode acontecer. Interessou-se pelo liberalismo porque considera tal doutrina como a mais prudente e cautelosa, mas ao mesmo tempo aquela menos interessada em dizer às pessoas como elas devem pensar e agir.
É uma realista das mais “hardcore”, pouco preocupada com prescrições sobre “como as pessoas deveriam ser”. Porém, age de forma extremamente moral, pois acredita que, na ausência de finalidade, só lhe resta viver da forma mais correta, justa e eticamente adequada possível. “Ser cética não necessariamente leva à catatonia; se sou livre, por que perder tempo lamentando as desgraças do mundo ou paralisada diante de tanto absurdo? Prefiro guiar minha vida da maneira mais prudente e sensata possível. Acho a ‘regra de ouro’, o ‘pacto de não-agressão’, extremamente justificável. Tentarei minha auto-realização terrena, mesmo sabendo que tal busca é tola e fútil.”

Ao longo do livro, serão mostrados diálogos em que ela se confronta com o otimismo de César, que a fará aprender a ver o “bright side” da vida. “É possível admirar a estética melancólica de uma música da Joy Division e mesmo assim ver uma beleza nas coisas.”

Henrique e Alice

(Escrito em 5/7/2011; o asterisco se refere a um excerto de 16/1/2010)

H: Esse é o ponto em que paramos de falar da minha vida e começamos a tratar da vida da Alice. Não se preocupem, daqui a pouco eu “apareço” de novo na história. Porém, é fundamental explicar a trajetória dela, desde a infância, para que fique claro o porquê desse colapso dela.
Como eu estava dizendo, foi naquele 29 de Dezembro de 15 d.M. que ela me contou tudo*. Passamos a tarde inteira na sorveteria, e Alice falou sobre o que a tinha levado a se tornar aquela jovem niilista e promíscua que, no fundo, ela detestava ser:
- Não sei se já lhe relatei isso, mas meus pais foram ausentes na minha criação. Muito ausentes. Ricos e bem-sucedidos, praticamente se esqueciam que tinham uma filha para criar. Fui educada por uma criada, uma governanta das mais elegantes. Não era das mais rigorosas, no entanto. Preocupava-se mais em me dar conforto e satisfação do que em corrigir meu comportamento. Como ela dizia mesmo? “Laissez-faire, laissez-passer, le mondeva de lui même!”. Sim, sim! E acredita, ela nem era liberal, só achava a expressão bonita, hehe! Falando nisso, aprendi francês com ela! Bem mais útil do que sermões me exortando a não mentir, não fazer birra para ganhar o que quero ou não ser egoísta, não é?

*De uma coisa estou certo: aquele 2º semestre de 2005 mudou minha vida. Provavelmente isso também aconteceu com o César e os outros, embora eles não encarem tal período de maneira tão... sagrada quanto eu.


A: Enquanto continuo nessa crise de choro, Henrique me apóia, tentando me auxiliar nessa catarse.
Eu sou um reflexo dos meus livros favoritos. Li todos entre os 14 e os 15, mas até hoje emano os ensinamentos deles. Hell, Lolita Pille. “Seja bela e consumista”. Uma Temporada no Inferno, Arthur Rimbaud. “É preciso ser absolutamente moderno”.
Uma vez me disseram algo que resume minha maneira de lidar com relacionamentos: “Drama só existe de verdade quando não existe mais qualquer cuidado. Quando duas pessoas não fazem qualquer sentido para a outra. Quando não se tem noção nenhuma de como lidar com as pessoas, quando se destrói sem ligar, pura e simplesmente sem qualquer gentileza.”

Somos a ressaca das outras gerações. Todas as lutas e idéias se esgotaram e nós sobramos. Nós nos sentimos enjoados e embrulhados, vazios por dentro. A cabeça não pára de doer e estamos acabados, exaustos de todo esse"nada" e, conseqüentemente, de todo o nosso excesso. Somos a geração da pura ressaca.

Identificamo-nos com o "ideal publicitário" do adolescente hedonista, belo, livre e sensual. Isso cria tanto o sentimento de liberdade quanto o de desamparo, pois é como se vivêssemos num mundo cujas regras são feitas por nós e para nós.
Somos ma juventude entediada que vive por meio e em função da internet, que busca a promiscuidade e o exibicionismo e abusa de bebidas e drogas. Um "hedonismo auto-consciente": eis a geração Y.


O imediatismo, o sentimento de tédio, o desapego sentimental e a dependência da mídia não são vantagens, são características sociais preocupantes.



Rascunhos

(Escrito em 29/12/2010)

CAPÍTULO 2 – O PRIMEIRO DIA DO RESTO DE NOSSAS VIDAS

(Júlia)
Foi em uma capicua que nós ficamos sabendo da apuração do vestibular. Às 20h02 do dia 20/02, cada um, em seu respectivo computador, encontrou seu nome na lista dos aprovados em 1ª chamada.
As reações foram distintas, mas não fugiram das idiossincrasias. Pelo que me relataram depois, foram as seguintes:
Giovana, que havia sido a mais compulsiva e esforçada nos estudos, teve um surto de euforia como há muito tempo não tinha. “Ah, Psicologia, enfim!”
Mário, após a dedicação intensa no 2º semestre, foi recompensado com o resultado positivo. Ele aproveitou que estava no site de um fórum de videogames para cantar a novidade para os amigos: “Digam olá para um futuro engenheiro mecânico!”
Alice, como era de se esperar, ficou extremamente alegre. Não demorou a que ela chamasse alguns colegas para uma... comemoração etílica. “Hoje beberei até ter um coma alcoólico, haha!”.
Henrique seguiu o script tradicional (o qual tanto criticaria meses depois, depois que aderiu ao “trote solidário”): telefonemas, pulos, raspar o cabelo, bebidas... Acabou parando no bar em que Alice tinha ido.
César, mais caseiro, estava com a avó e os irmãos, e fez uma celebração discreta, resumindo-se a mudar o nick no MSN e já decidir quais matérias pegaria no seu 1º semestre de UNICOS.
Quanto a mim, também fui contida. Como estava sozinha em casa, apenas liguei para os outros cinco, e liguei Oasis (“D’You Know What I Mean?”) no aparelho de som.


CAPÍTULO 14

(Alice)
Expus o que julgava ser minha ultrasinceridade a respeito deles. Tentei magoá-los dizendo certas verdades, mas quando esse artifício foi usado contra mim, sucumbi, e comecei a chorar compulsivamente.


CAPÍTULO 15

(Henrique)
Com isso, ficaria claro para todos que só eu sabia, mas que ela escondia dos demais. Talvez sua melhor amiga também o soubesse, mas não desconhecia o peso na consciência de Alice quanto a tudo aquilo.
Não demoraria para que eu me comprometesse a cuidar de Alice. Enquanto isso, Mário e Giovana resolvem ir para suas casas, com ela dirigindo. Júlia e César dormiram em um dos quartos, mas se comprometeram a ir embora antes das 8 da manhã do dia seguinte.
A infância: pais ricos e relativamente jovens, educação mimada, “faça o que quiser, na hora que quiser”. Pais liberais, talvez até demais. A liberdade viria licenciosidade.
11 aos 13 anos: primeiros namorados; Alice inventava histórias cabeludas (e falsas) sobre sua vida sexual; “complexo de Lolita”; começa a beber e fumar aos 13.
14 anos: perda da virgindade; instabilidade emocional, depravação moral; libertinagem; “cigarettes and alcohol”; perda definitiva da inocência; criação de uma persona segura de si e expansiva.
15 anos: devassidão aumenta exponencialmente; em poucos meses ela acumula tanta experiência de vida quanto mulheres bem mais velhas; a Lolita vira Mrs. Robinson quando ela conhece Henrique; Alice, mesmo que secretamente, sempre se sentiu horrível por tê-lo levado para “o mau caminho”. Os segredos contados no dia 27 de Dezembro de 15 d.M.

A Loucura Sentimental

(Escrito em 3/11/2009)

É uma história meio confusa, mas vou tentar explicá-la.

Antes de mais nada, uma breve introdução. Meu nome é Júlia, tenho 19 anos e estudo Relações Internacionais na UNICOS (na verdade, majoritariamente faço matérias de Letras e Economia, mas isso não vem ao caso).
5 meses e meio atrás, César, meu melhor amigo, começou a namorar uma garota chamada Christine, a quem apelidamos de "strawberry girl" em razão da música homônima do Siouxsie and the Banshees.
O problema é que, de certa maneira, ele refletiu o platonismo que sentia por mim em sua namorada. Em outras palavras, embora sempre a tratasse por Christine, inclusive quando entre amigos(as), ele escrevia textos chamando-a de Júlia. É algo do tipo "minha amada se equipara ao meu ideal romântico, a algo que antes eu considerava intangível". Estranho, não?
Não foi a primeira vez que ele fez isso; o mesmo tinha acontecido com as pobres coitadas da Melissa e da Flor, que tiveram que aguentar esse Werther ambulante projetando suas utopias femininas nelas.
Eis a complicação: ele gostava muito dela, mas amava a idéia que fazia dela. Porém, não foi uma paixão tão contemplativa quanto as outras quatro ou cinco que já teve, pois ele tomou a iniciativa quando precisou - ou pelo menos se deixou levar quando usualmente não deixaria. A despeito de todas as brigas e complicações, o namoro César-Christine foi repleto de momentos genuinamente felizes, e de fato houve atração não apenas psicológica, mas também física. Enfim, existiram reciprocidade, cumplicidade e companheirismo na relação dos dois, e não um, digamos, "unilateralismo platônico".

A trama se complicou quando eu também comecei a delirar. Talvez porque também estava absurdamente apaixonada pelo César, eu comecei a achar que ele estava namorando a mim (sic), que eu estava no lugar de Christine. O fato de que ela é colega minha; e, por sermos confidentes, ela vivia me contando detalhes de seu relacionamento, afinal jamais imaginaria que sua interlocutora gostava de seu namorado. Isso me fez enlouquecer mais ainda, pois eu me imaginava em situações que ela passara com ele.
O mais bizarro de tudo é que eu e ele quase não nos falamos nesses 5 meses e meio! Foi um distanciamento estranho, para dois amigos que não se desgrudaram nos últimos 3 anos.
Enfim, tudo acabou na semana passada, quando ele e a Christine brigaram em uma viagem acadêmica na qual eles, eu e o Henrique fomos. Em meio às palestras e festas, as diferenças de personalidade e os problemas mal resolvidos dos dois alcançaram patamares que não podiam mais ser superados. Para piorar, houve um lance meio "bizarre love triangle", sobre o qual até não me sinto à vontade de comentar.

Eu e César voltamos a nos falar nesse fim de semana, e aos poucos ele vem se recuperando da separação - e eu, da correspondência mental e silenciosa (pois também reservei-a à minha produção textual) a esse delírio romântico. Deixei claro para ele o quanto essa amizade é importante para mim, mas também que não estamos em condição de ter um relacionamento mais avançado. Ainda não somos maduros e equilibrados o bastante. Só no momento em que ele deixar de me tratar como um pedestal, e eu parar de ter medo de amar alguém, nós poderemos pôr um final (feliz) a essa tensão melodramática.
Enquanto isso, empresto-lhe meu recém-adquirido "Alta Fidelidade", enquanto ouço uma coletânea dos Smiths que ele gravou para mim meses atrás. Stop me if you think you've heard this one before.

A Grande Ilusão

(Escrito em 1º/11/2009. Alterações: Virgínia passa a se chamar Christine; várias partes confusas - e ainda na vibe "Júlia = Christine" foram suprimidas)

Parte I

César, num primeiro momento, achou que tinha acordado de um longo pesadelo. Porém, sabe muito bem que tudo que ocorrera naqueles últimos 5 meses e meio era realidade, por mais terrível que fosse. Seu primeiro relacionamento amoroso acabou, e ele está até aliviado com isso.
Ele ainda não entende por que insistiu na ilusão de achar que era Christine a garota de sua vida. Pior ainda: de confundi-la com Júlia, sua amiga e eterno ideal romântico. Hipóteses não faltam: imaturidade, ingenuidade, passividade, pedestaltismo, empolgação de 1º namoro... quem sabe, até um certo prazer em ser enganado. Desta vez, ele teve uma desilusão bem diferente das anteriores; ao invés do padrão platonista, chegou a namorar a garota. Precisou das mais diversas e amargas experiências para chegar a um desfecho.

Tudo começou naquele churrasco, em que sua paixão por Flor havia murchado. O abalo emocional havia sido intenso, e, por mais que ele já estivesse mais tranquilo nas 2 semanas seguintes, ainda estava propenso a tomar decisões precipitadas para esquecer sua recente crush. Uma delas foi na festa da Biologia, quando dançou durante várias horas com Christine, uma garota por quem aos poucos sentia uma atração. Na semana seguinte, almoçou com ela, conversaram bastante, buscava-a na saída das aulas de 3ª e 5ª... logo, não demorou para a garota insinuar que ele estava apaixonado por ela - algo que César prontamente negou, embora seu coração ainda estivesse em dúvida.
Então, veio o fatídico 17 de Maio. Parecia haver um mal-estar generalizado no grupo de amigos, que se reuniram naquela data para celebrar o aniversário de Júlia. Mário estava às vésperas de uma semana de provas, e não estava conseguindo se concentrar nos estudos. Giovana teve pesadelos, envolvendo a morte de sua mãe. Henrique estava lidando com a pressão de seu grupo estudantil ter chegado ao poder do diretório, e o stress contaminava-o perigosamente. Alice estava em nova crise existencial; questionava-se sobre o valor de viver de forma tão promíscua e boêmia, sem nada de estável e harmônico no seu cotidiano.
Júlia, a aniversariante, estava cada vez mais apaixonada por César, mas também progressivamente incapaz de revelar isso a ele; sabia, no fundo, que o perderia novamente. Na supracitada festa dos Gates of Dawn, ela quase se aproximou dele, mas Christine apareceu antes, e ele, frágil que estava, tratou esta como se fosse Júlia, em uma estranha ambiguidade ontológica. O caminho que ela pavimentara, ao ajudá-lo a esquecer a Flor, novamente teria um desvio, e ela temia que este seria um longo.
César havia acordado em clima de "Gloom", disposto a se entregar a um relacionamento para se curar da solidão angustiante em que estava. Embora fosse amigo de Christine há apenas algumas semanas, gostava dela o suficiente para tentar alguma coisa. Felizmente, ainda não estava platônico em relação a ela, o que era uma "trava" a menos. Chegou a ir ao birthday de Júlia, mas estava tão monomaníaco que nem conversou muito com ela. Foi cordial, no entanto, pois não ignoraria aquela por quem estava pronto a "projetar" em Christine. Quando chegou em casa, pretendendo estudar para a prova de Francês e para a aula sobre Robert Nozick, recebeu uma ligação que mudaria a sua vida: Christine o convidara para estudar naquela noite. Porém, César avisou que Mário também estava na kit-net, então ela fez outra proposta: saírem para o McDonald's.

Júlia ficou calada diante da descoberta, e evitou ver seu amigo pelas semanas seguintes. Para piorar, Christine também era colega de Júlia; conheceram-se por intermédio de Alice. Porém, por não saber da paixão de Júlia por César, contava-lhe despreocupadamente detalhes sórdidos da relação.

O namoro César-Christine foi, desde o início, dramático. Ele era marinheiro de 1ª viagem, e estava se deparando com situações completamente diferentes daquelas a que estava acostumado. Ela, emocionalmente instável e de personalidade forte e inconsequente, queria um namorado que beijasse o chão no qual ela pisasse, e a tratasse como um pai, um guia.

Os cinco primeiros dias, contudo, foram especiais; talvez, os melhores de todo o namoro. Foi a época em que as descobertas ainda envolviam poucas responsabilidades, o que amplificava a diversão. Temos, por exemplo, a noite em que dançaram Smiths e leram Nietzsche no quarto dela. Encerrada essa lua-de-mel, veio o melodrama. César não conseguia ver que os comportamentos que para ele eram 'naturais', para sua namorada eram 'egoístas', e aquilo que julgava mudança era, para ela, apenas continuidade.

Christine se irritava, brigava e se desculpava por motivos banais. Incerta sobre seu futuro acadêmico, brigada com a família e convicta de que as pessoas não gostavam dela (e até mesmo a desprezavam), V. estava em um período sombrio de sua vida, o que fazia a crise existencial de Alice parecer amena.
Seria César capaz de lidar com isso? Durante todos esses 5 meses e meio, ele se convenceu de que estava apto a ajudar sua namorada. Não sabia que um relacionamento não pode se fundar em tal desequilíbrio, e que a tranquilidade e a serenidade devem ser recíprocas. Consequentemente, ele próprio acabou se afundando durante essa saga, como veremos.

Parte II

As coisas começaram a sair do controle na véspera do Dia dos Namorados, quando Christine descobriu que Henrique, grande amigo de César, não gostava dela, e tinha uma imagem negativa que até relatara a César, dias antes do namoro começar. Dizia que a achava uma garota liberal, que seu amigo deveria ter coragem para tentar alguma coisa com ela. Christine tomou aquilo como um xingamento, algo do tipo "sou fácil, pegável e descartável". Brigou feio com ele, e disse pela primeira vez (viriam outras 15 nos meses seguintes, segundo as contas de César) que queria terminar o namoro. Por um lado, César não quis enfrentar seu amigo para defender a honra da sua namorada; porém, como ele não via na atitude de Henrique um desprezo maldoso por V., mas apenas uma 1ª impressão errada, decidiu apenas parar de falar com H., mas em Agosto não viu mais sentido nesse afastamento e reatou a amizade. Tentou fazer com que este pedisse desculpas para Christine, mas Henrique não via sentido em pedir perdão por algo que não considerava errado. Ela tomou o fato de ele não vir falar com ela como um desrespeito profundo, e atormentou César sobre esse problema durante todos os meses seguintes.
Nas férias, ambos fizeram duas viagens juntos. A primeira foi para Pastória, cidade natal dele e de seus 5 melhores amigos. Christine conheceu a família dele, e, embora tenham tido predominantemente bons momentos, no último dia houve uma certa tensão entre ela e a avó de César. A mãe dele não se surpreendeu, pois tanto Christine quanto a avó tinham o gênio forte e detestavam ser contrariadas. Logo em seguida, foram para Soterópolis, metrópole em que Christine nascera. Seguiram-se duas semanas muito tensas, em que, pelos mais diversos motivos (remédios, comida estragada, indisposição com familiares etc.), Christine entrou em confronto com César. Chamava-o de coisas horríveis, para horas depois chorar e fazer as pazes. O rapaz ficou certamente confuso com tudo isso, mas já se encontrava em uma situação em que não havia muito o que fazer. Se quisesse continuar o namoro, teria que aceitar Christine como ela era, e se esforçar ao máximo para agradá-la e parecer contente; mas, se achasse melhor terminar o relacionamento, ela o convenceria a reconhecer suas falhas e prometer melhorá-las para prosseguirem o namoro. A essa altura, a ambiguidade ontológica já estava se dissipando. César não via mais a necessidade de dizer a si mesmo que Christine era a sua Júlia, pois já havia se acostumado com a realidade nua e crua. Porém, é possível que parte da decisão dele por essa "separação" tenha tido outros motivos; haveria um desencanto a caminho?
Agosto chegou, e com ele, voltaram as aulas da UNICOS. Após os problemas acadêmicos do semestre anterior, que lhe acarretaram um colapso nervoso, Christine havia pego menos matérias, para se focar mais nelas e evitar excessos estafantes. César também estava fazendo menos créditos, mas o motivo era outro - o grupo de pesquisas no qual havia entrado, que lhe consumiria várias horas semanais.