quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Henrique e Alice

(Escrito em 5/7/2011; o asterisco se refere a um excerto de 16/1/2010)

H: Esse é o ponto em que paramos de falar da minha vida e começamos a tratar da vida da Alice. Não se preocupem, daqui a pouco eu “apareço” de novo na história. Porém, é fundamental explicar a trajetória dela, desde a infância, para que fique claro o porquê desse colapso dela.
Como eu estava dizendo, foi naquele 29 de Dezembro de 15 d.M. que ela me contou tudo*. Passamos a tarde inteira na sorveteria, e Alice falou sobre o que a tinha levado a se tornar aquela jovem niilista e promíscua que, no fundo, ela detestava ser:
- Não sei se já lhe relatei isso, mas meus pais foram ausentes na minha criação. Muito ausentes. Ricos e bem-sucedidos, praticamente se esqueciam que tinham uma filha para criar. Fui educada por uma criada, uma governanta das mais elegantes. Não era das mais rigorosas, no entanto. Preocupava-se mais em me dar conforto e satisfação do que em corrigir meu comportamento. Como ela dizia mesmo? “Laissez-faire, laissez-passer, le mondeva de lui même!”. Sim, sim! E acredita, ela nem era liberal, só achava a expressão bonita, hehe! Falando nisso, aprendi francês com ela! Bem mais útil do que sermões me exortando a não mentir, não fazer birra para ganhar o que quero ou não ser egoísta, não é?

*De uma coisa estou certo: aquele 2º semestre de 2005 mudou minha vida. Provavelmente isso também aconteceu com o César e os outros, embora eles não encarem tal período de maneira tão... sagrada quanto eu.


A: Enquanto continuo nessa crise de choro, Henrique me apóia, tentando me auxiliar nessa catarse.
Eu sou um reflexo dos meus livros favoritos. Li todos entre os 14 e os 15, mas até hoje emano os ensinamentos deles. Hell, Lolita Pille. “Seja bela e consumista”. Uma Temporada no Inferno, Arthur Rimbaud. “É preciso ser absolutamente moderno”.
Uma vez me disseram algo que resume minha maneira de lidar com relacionamentos: “Drama só existe de verdade quando não existe mais qualquer cuidado. Quando duas pessoas não fazem qualquer sentido para a outra. Quando não se tem noção nenhuma de como lidar com as pessoas, quando se destrói sem ligar, pura e simplesmente sem qualquer gentileza.”

Somos a ressaca das outras gerações. Todas as lutas e idéias se esgotaram e nós sobramos. Nós nos sentimos enjoados e embrulhados, vazios por dentro. A cabeça não pára de doer e estamos acabados, exaustos de todo esse"nada" e, conseqüentemente, de todo o nosso excesso. Somos a geração da pura ressaca.

Identificamo-nos com o "ideal publicitário" do adolescente hedonista, belo, livre e sensual. Isso cria tanto o sentimento de liberdade quanto o de desamparo, pois é como se vivêssemos num mundo cujas regras são feitas por nós e para nós.
Somos ma juventude entediada que vive por meio e em função da internet, que busca a promiscuidade e o exibicionismo e abusa de bebidas e drogas. Um "hedonismo auto-consciente": eis a geração Y.


O imediatismo, o sentimento de tédio, o desapego sentimental e a dependência da mídia não são vantagens, são características sociais preocupantes.



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