quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Júlia

(Escrito em 20/7/2011, com algumas alterações)

Júlia vive uma tensão interna profunda, mas que doma com todas as suas forças. Embora ela tenha como principal objetivo ser perfeitamente racional e equilibrada, até mesmo fria, há certos impulsos sensíveis e artísticos em sua alma. Ela estuda Economia, é liberal e possui uma conduta firme e decidida, mas também adora cinema e música e é muito introspectiva em relação a seus sentimentos. Ao longo da obra, ela e César desenvolverão uma “amizade perfeita” (conceito aristotélico), não abalada mesmo quando cada um deles namorou. A questão é se ela aceitará os sentimentos que nutre por ele e se César romperá seu egoísmo e admitirá que gosta dela.
Ela pretende ser moderna em tudo o que faz, pensa e aprecia.

Música – “Meu gosto musical tem como marco fundador a queda do Muro de Berlim. O fim das utopias fez bem à nossa cultura, que parou de cultivar ilusões patéticas. Confesso meu desinteresse pelo rock clássico. Prefiro bandas que têm mais a ver com a minha realidade, meu contexto”. Blur, Radiohead, Nirvana, Pavement, PJ Harvey (“a minha preferida quando desconto em mim mesma minhas angústias”), Sonic Youth (“a única com um pé nos anos 80 que eu curto”)...
Top 5: “This Is a Low” (Blur), “Lucky” (Radiohead), “Rid of Me” (PJ Harvey), “Stop Breathin’” (Pavement), “Sometimes" (My Bloody Valentine).

Literatura – “Valorizo livros que expressem, inclusive esteticamente, a vida moderna. Admito a importância dos ‘Grandes Livros’, mas, novamente, prezo por aquilo que enxergo claramente na minha época”. Orwell, Kundera, Joyce e, principalmente, Ayn Rand. “A parte crítica e negativa de A Revolta de Atlas expõe boa parte do que penso da maioria esmagadora das pessoas e ideologias.”

Política – “Considero-me liberal. Defendo o Estado-mínimo, o livre mercado e o ‘rule of law’. Gosto muito da formalização argumentativa da Escola de Chicago e da lógica da Escola Austríaca. Além, é claro, do ‘founding father’ do liberalismo, Adam Smith.”

Cinema – “Admito que sou moralista, sempre preocupada em extrair uma lição de tudo que faço e vejo. Sendo assim, aprecio filmes que criticam os excessos da modernidade, mesmo que para isso precisem vestir a carapuça”. Gosta de filmes sombrios e desesperançosos, bem “mind blowing”. Top 5: Clube da Luta, Laranja Mecânica, Quero ser John Malkovich, Seven, Apocalypse Now.

Relacionamentos – “Tenho muita dificuldade e receio em lidar com as pessoas – não sei se por arrogância ou pelo tal ‘medo de me ferir’ - , o que obviamente se manifesta em meu pequeno currículo amoroso. Não acho que vale a pena entrar em um relacionamento enquanto não tiver avaliado todas as variáveis e adquirido a certeza de que é um investimento que vale a pena. Meu primeiro beijo foi no dia do meu aniversário de 16 anos, e eu só tive um namoro para valer até hoje, em 19 d.M.”

Filósofo favorito – “Aristóteles. O único suficientemente coerente para me interessar.” Porém, sua mentalidade também é muito influenciada por Schopenhauer e Ayn Rand.

Descrição: Média alta, cabelos castanhos lisos, calça jeans, camisa xadrez, blusa preta de manga cavada, fones de ouvido.

Perfil: Júlia é espírita, mas extremamente cética, desconfiada até mesmo do “humanismo secular” da ciência (ex.: Richard Dawkins). Sua descrença no mundo e nas pessoas faz dela uma pessoa meio amarga, com escassa esperança. A única coisa que a interessa é a lógica, a sensatez, o “rigor analítico”; daí seu aristotelismo.
Só teve dois relacionamentos:

1) aos 16, com Pompeu, teve o seu primeiro beijo, mas só “namorou” com ele durante 6 semanas, pois o acha imaturo, inseguro e muito “normal” em seus gostos, idéias e opiniões. Depois de uma mal-sucedida tentativa de perder a virgindade com ele (ela desistiu já nas preliminares), no dia seguinte ela terminou a relação unilateralmente. Dias depois, pediu para mudar de colégio, decisão motivada por outros fatores, como a falta de amigos, os professores entediantes e o ambiente hipócrita de sua escola.
2) Nas férias do segundo ano de faculdade, começou a namorar Cássio, colega de Economia, com quem teve a sua primeira vez. No início de maio, entretanto, seu ceticismo despertou diante do rumo entediante que seu namoro vinha tomando. Embora fosse elegante e cavalheiro, seu namorado não despertava nela uma paixão genuinamente forte, tampouco uma intensa atração psicológica ou mesmo filosófica. Lembrou-se do que Schopenhauer dizia sobre o amor (disfarce para interesses reprodutivos/biológicos); desenganada, não viu futuro na relação com Cássio e terminou.

Na nova escola, para sua surpresa, logo de cara fez várias amizades, sendo que uma delas em especial virou sua paixão platônica: César. Porém, consciente de que gostava do rapaz, escondeu seus sentimentos de forma ardilosa: em uma conversa com ele, disse que “Ainda bem que somos só amigos; um namoro seria terrível para os laços que estamos cultivando.” Isso adiou em mais de 4 anos a declaração mútua.

Júlia é extremamente solitária, e por vontade própria. Desde o divórcio dos pais, perdeu a esperança na durabilidade e confiabilidade dos relacionamentos humanos. Somou-se a isso sua dúvida profunda quanto à existência de Deus e o sentido da vida, do que decorreu que a garota de aptidões artísticas que ela era resolveu se tornar um “monstro utilitarista”, que só pensa racionalmente, em termos de custos e benefícios.
Junte-se a esse pessimismo cosmológico a sua maneira distópica de encarar a política (além de “A Revolta de Atlas”, também adora “1984” e “Admirável Mundo Novo”, dos quais retira vários argumentos para desprezar sexo e drogas – “são alienantes” – e projetos políticos ambiciosos – “o risco de se tornarem totalitários é gigantesco”), sempre pensando no que de pior pode acontecer. Interessou-se pelo liberalismo porque considera tal doutrina como a mais prudente e cautelosa, mas ao mesmo tempo aquela menos interessada em dizer às pessoas como elas devem pensar e agir.
É uma realista das mais “hardcore”, pouco preocupada com prescrições sobre “como as pessoas deveriam ser”. Porém, age de forma extremamente moral, pois acredita que, na ausência de finalidade, só lhe resta viver da forma mais correta, justa e eticamente adequada possível. “Ser cética não necessariamente leva à catatonia; se sou livre, por que perder tempo lamentando as desgraças do mundo ou paralisada diante de tanto absurdo? Prefiro guiar minha vida da maneira mais prudente e sensata possível. Acho a ‘regra de ouro’, o ‘pacto de não-agressão’, extremamente justificável. Tentarei minha auto-realização terrena, mesmo sabendo que tal busca é tola e fútil.”

Ao longo do livro, serão mostrados diálogos em que ela se confronta com o otimismo de César, que a fará aprender a ver o “bright side” da vida. “É possível admirar a estética melancólica de uma música da Joy Division e mesmo assim ver uma beleza nas coisas.”

Nenhum comentário: